Análise de Silent Hill f

Silent Hill f promete um novo horror… mas é realmente o renascimento que a série precisava?

Introdução:

Silent Hill f foi lançado em 26 de setembro de 2025, encerrando um hiato de 13 anos da série sem um novo jogo que não fosse remake. Criado pelo estúdio NeoBards Entertainment e utilizando a Unreal Engine 5, o jogo foi lançado para PC, PS5 e Xbox Series X|S.

Sinopse:

Ambientado no Japão dos anos 1960, Silent Hill f conta a história de Hinako, uma jovem que enfrenta eventos estranhos em uma pequena cidade rural. Uma misteriosa infecção faz flores vermelhas crescerem da carne humana, deformando corpos e mentes. Enquanto tenta sobreviver, ela confronta traumas, segredos e uma presença que parece conhecer seus medos mais profundos.

Inspirações:

A principal inspiração para o jogo é o Período Shōwa. Essa foi uma época de mudanças rápidas, em que o trauma da Segunda Guerra Mundial ainda era uma ferida aberta e as tradições antigas colidiam intensamente com a modernização ocidental.

No período Shōwa, a divisão era bem definida e socialmente imposta. Homens eram vistos como provedores, trabalhadores e responsáveis por “honrar” a família. Já as mulheres eram pressionadas a serem dóceis, recatadas, obedientes e dedicadas ao lar. Essa cobrança criava uma pressão enorme, mantendo uma fachada de ordem, mas escondendo frustração, vergonha e silêncio. Silent Hill f se inspira exatamente nesse cenário: a protagonista vive em um ambiente onde ser aceita significa apagar partes de si mesma.

Ryukishi07:

A escolha mais genial da Konami foi colocar o roteiro nas mãos de Ryukishi07. Para quem não o conhece, ele é a mente por trás de visual novels de culto como Higurashi: When They Cry e Umineko: When They Cry. O seu modus operandi é precisamente o que Silent Hill sempre foi: horror psicológico focado em pequenas comunidades isoladas, segredos sombrios de família e a dúvida constante se o horror é sobrenatural ou fruto da psicose humana.

Narrativa e Desenvolvimento de Personagens:

Controlamos Hinako Shimizu, uma estudante do ensino médio em Ebisugaoka. Desde o início, o jogo estabelece a sua realidade sufocante ela vive sob o domínio de um pai abusivo e de uma sociedade patriarcal que a enxerga como pouco mais que uma propriedade a ser negociada.

O tema central da história é o casamento arranjado. Hinako está sendo prometida à misteriosa família Kotoyuki, os ricos guardiões do santuário local, que são a força vital da região. A motivação de Hinako não é apenas o medo do desconhecido, é um pavor muito real. A irmã mais velha dela, Junko, tomou o mesmo rumo anos atrás, casando-se com a família Kotoyuki e desaparecendo completamente, um fato que os pais de Hinako e os anciãos da aldeia fazem questão de esconder.

Hinako, após uma discussão acalorada com seu pai alcoólatra e sua mãe passiva, resolve fugir de casa. Enquanto desce a colina, encontra seus amigos, mas uma névoa misteriosa aparece, e uma camada de flores carmesim toma conta da paisagem do vilarejo. É nesse momento que o jogo realmente começa.

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A praga floral (a "Infecção") explode pela aldeia, manifestando-se fisicamente a partir do trauma psicológico de Hinako e da culpa reprimida da cidade. A partir daqui, a narrativa é uma descida ao inferno.

O desenvolvimento dos personagens é o ponto alto, especialmente jogado com as vozes originais em japonês. A atuação (liderada por Konatsu Kato como Hinako) é impecável, capturando a transição de uma vítima aterrorizada para alguém que, como Ryukishi07 queria, faz as suas próprias escolhas.

Como em Umineko, a narrativa é densa, simbólica e nada confiável.

Gameplay:

Silent Hill f não é um Soulslike. O combate é intencionalmente pesado e pouco fluido. Hinako não é uma lutadora, mesmo que o jogo mencione que ela sempre teve destaque nos esportes no colégio, isso não se traduz no gameplay.

Como é o gameplay:

As armas corpo a corpo, como canos, têm durabilidade e quebram, caso você não encontre uma ferramenta de reparo:

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Parry e Contra-Ataque:

Existe uma esquiva ágil, mas a mecânica de risco é o Parry. no tempo exato, Hinako pode aparar um ataque. O timing é apertado. Acertar o parry abre uma janela para um Contra-Ataque.

Modo Foco:

Ao segurar um botão, Hinako para e entra no "Modo Foco". Nesse estado, a câmera se aproxima, permitindo desferir um golpe pesado que causa grande dano aos monstros. Usando o Modo Foco, é possível atingir dois ou mais inimigos ao mesmo tempo, além de ampliar a janela para realizar contra-ataques.

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O HUD possui três barras:

Saúde, Sanidade e Estamina. Quando Hinako sofre dano psicológico ou utiliza o foco, a sanidade diminui, reduzindo sua saúde máxima e tornando os inimigos mais agressivos. A estamina é gasta ao esquivar, correr e atacar os monstros.

Os Puzzles:

os puzzles são um regresso triunfante. Complexos e baseados em folclore, eles fazem jus aos clássicos. E mudam conforme a dificuldade, então cada um terá sua experiência com eles.

Os problemas do jogo:

Hinako não "sobe de nível". As "habilidades" vêm dos amuletos que você pode adquirir ao oferecer oferendas nos santuários. Você ganha fé e pode sortear um amuleto, e, embora o custo aumente a cada sorteio, fica fácil conseguir os melhores.

Honestamente, é uma adição desnecessária que "gamifica" o horror. Parece uma mecânica importada à força de jogos como Ghost of Tsushima ou Yotei, quebrando a imersão.

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Combate excessivo, o jogo sempre te coloca em combate, o que torna um pouco cansativo, a repetição de inimigos é outro problema, já que em cerca de 4 horas de gameplay você já viu todos, o que os torna apenas um incômodo após algumas horas.

Trilha Sonora:

A música em um jogo Silent Hill nunca é apenas um pano de fundo: é um personagem, um motor de emoções e um guia para o terror. Em Silent Hill f, o lendário Akira Yamaoka, compositor das trilhas mais icônicas da franquia, está de volta. É o trabalho dele que garante que SH f ainda soe como um Silent Hill, mesmo com a mudança de tom e cenário. Yamaoka sempre defendeu que a música de terror não precisa ser bonita, mas sim ter um “leve toque de incongruência”.

Level Design e Direção de Arte:

O design de níveis funciona em "hubs" ligados por caminhos lineares, sem muita margem para exploração, mas a verdadeira estrela é a direção de arte. O Outro Mundo de SH f é um triunfo do horror: uma infecção floral e fúngica, em vez do metal enferrujado.

As criaturas (do artista "kera") são inacreditáveis: corpos fundidos com raízes e rostos cobertos por pétalas carnudas. A ambientação do Japão dos anos 60 é fiel, contrastando o dessaturado com o vermelho-sangue das flores.

Aspectos Técnicos:

No Modo Desempenho no PS5, o objetivo é manter 60fps. Em áreas abertas com muita névoa ou “peste” floral, as quedas de framerate são perceptíveis e dificultam o parry. Visualmente, a UE5 é utilizada com maestria, e as expressões faciais, junto à sincronia labial japonesa, são de altíssimo nível.

Conclusão:

O jogo não é perfeito. O excesso de combate e o uso de Amuletos, que “gamificam” a sobrevivência, são falhas de design que reduzem a tensão e o aproximam perigosamente de um “action horror”.

Ainda assim, Silent Hill f marca um retorno triunfante e se destaca como um dos melhores jogos de terror do ano. Ele não apenas honra o legado da franquia, como também a liberta corajosamente de suas próprias amarras geográficas, abrindo novas portas para a série.

Nota selecionada:
8
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Fuyushiro

Fã de ficção científica (de steampunk a sail punk), animes, mangás e games. No Refúgio Gamer, irei compartilhar as principais notícias e rumores da indústria de games.

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